Para quem não sabe: duas semanas atrás, os deputados da Nação discutiam um plano governamental de benefícios fiscais para a compra de painéis solares.
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José Eduardo Martins, deputado do PSD, afirma que o plano foi desenhado para beneficiar duas empresas, a Martifer e a Vulcano.
José Eduardo Martins, deputado do PSD, afirma que o plano foi desenhado para beneficiar duas empresas, a Martifer e a Vulcano.
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Em tom irónico, o deputado do PS, Afonso Candal, diz: “Sei que a sua preocupação são os contribuintes. Eu sei… Eu sei… Sei que, piamente, esses são os seus interesses… São os contribuintes…”
Em tom irónico, o deputado do PS, Afonso Candal, diz: “Sei que a sua preocupação são os contribuintes. Eu sei… Eu sei… Sei que, piamente, esses são os seus interesses… São os contribuintes…”
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Suspeitando que Candal estaria a insinuar que José Eduardo Martins, que é advogado na área ambiental, poderia estar a querer defender interesses dos seus clientes, o deputado do PSD vira-se para Candal e declara:
Suspeitando que Candal estaria a insinuar que José Eduardo Martins, que é advogado na área ambiental, poderia estar a querer defender interesses dos seus clientes, o deputado do PSD vira-se para Candal e declara:
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- “Vai para o caralho!”
- “Vai para o caralho!”
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Candal ficou obviamente confuso. A que caralho estaria Martins a referir-se?
É que, na frase «vai para o caralho», o deputado do PSD utilizou o termo “caralho” como advérbio de lugar onde (Para onde vais? Para o caralho.)
É que, na frase «vai para o caralho», o deputado do PSD utilizou o termo “caralho” como advérbio de lugar onde (Para onde vais? Para o caralho.)
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Ora, sendo Candal deputado do PS, será de supor que Martins o estava a mandar para o caralho do PS.
Ora, sendo Candal deputado do PS, será de supor que Martins o estava a mandar para o caralho do PS.
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Mas como em política, nem sempre o que parece, é, podia muito bem ser o caralho do PSD ou outro caralho qualquer.
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O grande problema, sempre que se usa o termo “caralho”, é saber se o utilizamos como substantivo, adjectivo, advérbio, unidade de medida, ou como qualquer outra das múltiplas formas como se pode usar o caralho.
O grande problema, sempre que se usa o termo “caralho”, é saber se o utilizamos como substantivo, adjectivo, advérbio, unidade de medida, ou como qualquer outra das múltiplas formas como se pode usar o caralho.
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Por exemplo, no futebol, “caralho” é muito usado como nome próprio. De facto, mais de 60% dos jogadores de futebol se chamam Caralho. Daí, as expressões: “Passa a bola, Caralho!”, “Remata, Caralho, remata!”, “Vai-te embora, ó Caralho!”
Por exemplo, no futebol, “caralho” é muito usado como nome próprio. De facto, mais de 60% dos jogadores de futebol se chamam Caralho. Daí, as expressões: “Passa a bola, Caralho!”, “Remata, Caralho, remata!”, “Vai-te embora, ó Caralho!”
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O caralho é também usado como pontuação.
Como virgula: “Ouve lá, caralho, quando é que pagas o que me deves?”
Como ponto de exclamação: “Olha que tu não me tornas a fazer isso, caralho!”
Como ponto final parágrafo: “Não faço nem mais um caralho”.
O caralho é também usado como pontuação.
Como virgula: “Ouve lá, caralho, quando é que pagas o que me deves?”
Como ponto de exclamação: “Olha que tu não me tornas a fazer isso, caralho!”
Como ponto final parágrafo: “Não faço nem mais um caralho”.
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O grande Millor Fernandes já tinha chamado a atenção para a utilização do caralho como unidade de medida: “grande comó caralho”, “longe comó caralho”.
O grande Millor Fernandes já tinha chamado a atenção para a utilização do caralho como unidade de medida: “grande comó caralho”, “longe comó caralho”.
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No entanto, no ambiente de um Parlamento, “vai para o caralho” é uma novidade.
No entanto, no ambiente de um Parlamento, “vai para o caralho” é uma novidade.
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Há antecedentes, claro.
Há antecedentes, claro.
Em 1982, por exemplo, e segundo o DN, o velho Sousa Tavares, dirigindo-se ao “operário” Jerónimo de Sousa que, já nesse tempo, era deputado, disse:
“Olhe, vá à merda! Idiota! Mandrião! Vá trabalhar, que foi aquilo que nunca fez na vida! Calaceiro!”
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E recuando mais dois anos, para 1980, o então deputado do PS, Raul Rego, virando-se para o mesmo Sousa Tavares, deputado do PSD, sibilou:
“Vá para a puta que o pariu!”
E recuando mais dois anos, para 1980, o então deputado do PS, Raul Rego, virando-se para o mesmo Sousa Tavares, deputado do PSD, sibilou:
“Vá para a puta que o pariu!”
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Percebe-se, portanto, que existe uma espécie de tradição de os deputados do nosso Parlamento se mandarem uns aos outros para sítios curiosos: para a merda, para a puta que os pariu e, agora, para o caralho!
Percebe-se, portanto, que existe uma espécie de tradição de os deputados do nosso Parlamento se mandarem uns aos outros para sítios curiosos: para a merda, para a puta que os pariu e, agora, para o caralho!
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Em resumo: não se sabe se Afonso Candal seguiu o conselho do seu colega Martins e se foi mesmo para o caralho.
Em resumo: não se sabe se Afonso Candal seguiu o conselho do seu colega Martins e se foi mesmo para o caralho.
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Sr. deputado: quando lá chegar, diga-nos qualquer coisa.
Retirado de “O Coiso”
Sr. deputado: quando lá chegar, diga-nos qualquer coisa.
Retirado de “O Coiso”
5 comentários:
Amanhã, domingo, o programa «A alma e a gente», de José Hermano Saraiva, é dedicado a Aveiro. Para ver, às 19h30, na RTP2.
Passa a palavra!
Nada de especial.
Chama-se a isso "português corrente".
Afinal, cada deputado representa ou devia representar uma dilatada bolsa de portugueses utentes de todo o tipo de léxico que se usa no dia a dia.
O homem deve ser do Norte e fez jus à cultura regional o que está bem.
Vai-me desculpar, mas em qualquer dos exemplos o caralho aparece como substantivo, no caso dos jogadores, substantivo próprio. Dou apenas o benefício da dúvida no caso da vírgula. Também gostava de confirmar se o doutor Candal já lá chegou.
Lamento mas não serei eu que vou discutir o caralho gramaticalmente.
Pelas múltiplas funções que desempenha,penso,isso sim, que deveria ser doutor Honoris Causa.
Quanto ao Afonso Candal ter lá chegado, sinceramente não sei, mas penso que não.
Caso contrário, na Páscoa, teria enviado um cesto deles recheados a ovos moles ao "amigo" do parlamento, e isso constava-se.
Cps
O gajo precisava era de pimenta na língua.
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